A ciência por trás do DBS: O que é e como funciona
Postado em: 28/10/2024
A Estimulação Cerebral Profunda (ECP, ou na sigla em inglês como é mais conhecida, DBS) é uma técnica cirúrgica avançada indicada para tratar doenças como Parkinson, distonia, tremor essencial, epilepsia, doenças neuropsiquiátricas como TOC e depressão graves, dor crônica, síndrome de Tourette, além de outros distúrbios do movimento menos comuns.
Essa abordagem é recomendada para pacientes que não conseguem mais controlar os sintomas de forma eficaz com medicamentos.
O procedimento consiste na implantação de eletrodos no cérebro, conectados a um gerador de pulso semelhante a um marca-passo. Esse dispositivo envia estímulos elétricos direcionados para áreas específicas, modulando áreas disfuncionais ou responsáveis por determinados sintomas e fisiopatologia da doença.
A cirurgia de implante de DBS proporciona mais autonomia e melhora a qualidade de vida de pacientes com distúrbios neurológicos. Se você quer saber mais sobre como essa solução funciona e entender por que ela pode ser ideal para o seu caso, continue acompanhando!
O que é DBS?
A Estimulação Cerebral Profunda (DBS) é uma intervenção cirúrgica em que implanto eletrodos em áreas específicas do cérebro para controlar sintomas incapacitantes de distúrbios neurológicos.
Esses eletrodos emitem pequenos impulsos elétricos que regulam a atividade cerebral irregular ou corrigem desequilíbrios químicos. Todo o sistema é controlado por um gerador, dispositivo implantado sob a pele no peito, como se fosse um “marca passo cerebral”.
Durante a cirurgia, implanto três componentes do sistema:
- Eletrodos: fios finos e isolados com eletrodos na extremidade, geralmente com 4 ou 8 polos para estimulação, podendo ser alguns direcionais, que posiciono cuidadosamente no tecido cerebral através de pequenas aberturas no crânio (IMAGEM 1);
- Fios de extensão: conectam os eletrodos ao neuroestimulador, passando pela cabeça e pescoço;
- Neuroestimulador: também chamado de gerador, é um dispositivo pequeno, semelhante a um marca-passo, implantado sob a pele na parte superior do tórax, que apresenta a bateria do sistema e controla os impulsos elétricos enviados ao cérebro.
Normalmente, coloco eletrodos em ambos os lados do cérebro para tratar sintomas bilaterais. Em alguns casos, no entanto, os eletrodos podem ser implantados em apenas um lado, dependendo das necessidades de cada paciente.
O DBS é indicado para quem não responde bem aos medicamentos ou enfrenta efeitos colaterais que afetam a qualidade de vida. Embora não cure a doença, reduz os sintomas e melhora a independência e o bem-estar do paciente.
Quais condições a DBS pode tratar?
A cirurgia DBS é uma alternativa eficaz para diversas condições que afetam o cérebro. A Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos aprovou a DBS para o tratamento de:
- Distonia;
- Tremor essencial;
- Epilepsia resistente a medicamentos;
- Doença de Parkinson;
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Além destas indicações, pacientes com outras doenças podem se beneficiar do implante de eletrodos para neuroestimulação, como nos casos de depressão refratária, alguns tipos de tremores mais raros, como o tremor rubral, e casos de agressividade patológica, dor crônica, etc. Estudos para muitas doenças estão sendo desenvolvidos para avaliar os riscos e benefícios do DBS para diversas patologias.
Se você enfrenta algum desses distúrbios e busca opções para aliviar os sintomas e melhorar seu bem-estar, a DBS pode ser uma solução.
Como é realizado o procedimento?
No dia da Estimulação Cerebral Profunda (DBS), sigo um protocolo rigoroso para garantir precisão e segurança ao processo. Existem variações específicas a depender da doença de base a ser tratada. De forma simplificada, confira as etapas principais:Implante do halo estereotáxico: é realizada a fixação de um arco estereotáxico na cabeça do paciente (IMAGEM 2) e realizo uma tomografia computadorizada. Utilizo softwares avançados e técnicas de fusão de imagem para criar um mapa detalhado do cérebro e identificar o local onde os eletrodos serão implantados.
Determinação do local: a localização do alvo e trajetória do eletrodo vai depender da doença de base e da sintomatologia específica de cada doença.
Execução na sala de cirurgia: com o paciente acordado sob anestesia local, realizo duas pequenas incisões na parte frontal da cabeça e faço dois furos no crânio para inserir os eletrodos.
Testes durante a cirurgia: posiciono um eletrodo de teste no cérebro para avaliar a resposta imediata, como redução dos tremores, ajustando a localização, se necessário.
Implante definitivo: após validar o teste, insiro os eletrodos permanentes, geralmente um em cada lado do cérebro, para um tratamento mais eficaz.
Implante do gerador: na etapa final, com o paciente sob anestesia geral, implanto um gerador abaixo da clavícula, responsável por enviar pulsos elétricos ao cérebro.
Algumas semanas após a cirurgia, programo o neuroestimulador para ajudar a tratar os sintomas. Ajusto gradualmente as configurações do DBS ao longo do tempo, enquanto reviso as medicações em conjunto. A maioria dos pacientes consegue reduzir (mas não suspender totalmente) o uso de medicamentos após o DBS.
Vantagens do DBS
A estimulação cerebral profunda apresenta diversas vantagens. Por envolver mudanças mínimas no cérebro, o procedimento é reversível. Se surgirem efeitos colaterais indesejados ou tratamentos mais avançados desenvolvidos no futuro, o gerador de pulso pode ser removido, e o tratamento interrompido.
Além disso, a estimulação do dispositivo pode ser ajustada facilmente, sem a necessidade de novas cirurgias. Essa flexibilidade permite adaptar a terapia às mudanças na condição do paciente ao longo do tempo. Esses ajustes são fundamentais para otimizar os resultados e o controle dos sintomas.
Por que considerar a DBS?
A cirurgia DBS é uma das opções mais inovadoras e eficazes para tratar sintomas de distúrbios do movimento e outras condições neurológicas. É uma opção importante para doenças que não obtêm melhora significativa com o tratamento conservador. Novas tecnologias vêm surgindo e novos estudos são feitos em diversos centros ao redor do mundo visando melhorar e desenvolver essa tecnologia.
Se você está interessado em avaliar se essa técnica é ideal para o seu caso, agende uma consulta comigo. Será um prazer ajudar!
Dr. Vítor Hugo Pereira
Neurocirurgião Funcional – Especialista em Dor
CRM-AL: 6520
RQE: 4539 / 4744
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